Quase 30 polícias,
alguns de folga e outros fardados, estão desde ontem a separar tampas verdes e
vermelhas de uma pilha 20 toneladas
A ordem chegou terça-feira à noite, via email. O comandante
da 2ª divisão da PSP de Lisboa ordenou aos agentes da Equipa de Intervenção da
Rápida e a quatro polícias de cada esquadra da divisão que se apresentassem no
dia seguinte, pelas 8h da manhã, num armazém para separar tampinhas.
Alguns dos polícias destacados para a missão estavam de
folga e tiveram de abdicar do descanso para cumprir a ordem. Segundo contou ao
i um dos agentes envolvidos na acção, os polícias ficaram “indignados” e
“revoltados” com a ordem. Sobretudo os que pertencem à Equipa de Intervenção
Rápida, porque estão escalados para trabalhar amanhã, no sábado e no domingo na
final da Liga dos Campeões, que acontecerá no Estádio da Luz. “Não puderam
estar com as suas famílias e vão ter de trabalhar quase duas semanas seguidas,
sem direito a folgar, para separar tampas”, queixa-se o mesmo polícia.
A separação de tampinhas insere-se numa iniciativa promovida
pela 2ª divisão da PSP e que pretende construir uma bandeira de Portugal com 10
milhões de tampas no feriado do 10 de Junho. O objectivo é bater o recorde do
Guiness da maior bandeira do género, bem como apoiar a selecção nacional de
futebol e instituições de solidariedade social. O projecto, designado “Bandeira
da Esperança”, foi apresentado recentemente no Comando Metropolitano de Lisboa
(COMETLIS) e será levado a cabo debaixo da pala do Pavilhão de Portugal, no
Parque das Nações. Conta com o patrocínio de diversas instituições, entre as
quais o BES.
A vertente de solidariedade do projecto acontece no dia 10
de Junho: vão estar instaladas, no Parque das Nações, três centros de recolhas
de tampinhas nos quais os visitantes poderão depositar a sua contribuição.
“Contamos que as pessoas possam trazer com elas o maior número de tampinhas
possíveis, uma vez que estas serão depois convertidas em equipamentos sociais”,
explicou recentemente a PSP.
Assim, e para que a bandeira esteja concluída a tempo, o
comandante da divisão decidiu empenhar os seus polícias – que têm de separar as
tampas verdes e vermelhas de uma pilha de 20 toneladas. Ontem, os agentes
revezaram-se em dois turnos, das 8h às 18h.
“Aquilo que não compreendemos é porque é que este serviço
não está a ser feito de forma voluntária. Numa instituição com mais de 20 mil
agentes, certamente haveria voluntários. Não se pode obrigar as pessoas a fazer
isto, ainda por cima numa folga”, queixa-se o agente com quem o i falou.
“Quando se pensa que já se bateu no fundo, somos confrontados com mais esta”,
remata.
Contactada pelo i, a direcção-nacional da PSP esclarece que
esta é uma iniciativa “promovida pela 2ª divisão e que tem um pressuposto
altruísta”. O gabinete de Relações Públicas garante, ainda, que os polícias
“nomeados” para a tarefa serão “compensados num futuro próximo”.
Já o Sindicato Unificado da Polícia (SUP) recorda que
“separar tampinhas não faz parte das áreas funcionais da polícia” e critica o
facto de se “cortar folgas” e “desviar elementos da área operacional”. “Ainda
ontem se apresentou uma nova imagem da PSP ao público, mas internamente continuam
a passar-se situações deste género”, remata o presidente, Peixoto Rodrigues.
Fonte da Noticia iONLINE
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